sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O argumento ateísta de Richard Dawkins em “Deus, um delírio”

Traduzido por Leandro Teixeira

O que o Sr. pensa sobre o argumento ateísta de Richard Dawkins em seu livro “Deus, um delírio”?

Dr. William Lane Craig responde:

Nas páginas 212 e 213 do livro dele, Dawkins resume o que ele chama de “o argumento central de meu livro.” Assim segue:

1. Um dos maiores desafios para o intelecto humano foi explicar como o complexo e improvável aparecimento do design surgiu no universo.
2. A tentação natural é atribuir o aparecimento do design
a um design verdadeiro.
3. A tentação é uma falsidade porque a hipótese do projetista remete imediatamente ao problema maior de quem projetou o projetista.

4. A explicação mais engenhosa e poderosa é evolução de Darwin através de seleção natural.
5. Nós não temos uma explicação equivalente para a física.

6. Nós não deveríamos renunciar a esperança de uma explicação melhor que surja na física, algo tão poderoso quanto o Darwinismo é para biologia. Então, Deus não existe quase certamente.

Este argumento soa mal porque a conclusão ateísta que “Então, Deus não existe quase certamente” parece sair de repente do nada. O senhor não precisa ser um filósofo para perceber que esta conclusão não pode ser deduzida das seis afirmações anteriores.

Realmente, se nós levarmos estas seis afirmações como premissas de um argumento que implique na conclusão “Então, Deus não existe quase certamente”, então o argumento é patentemente inválido. Nenhum regulamento lógico de inferência permitiria ao senhor tirar esta conclusão das seis premissas.

Uma interpretação mais gentil seria levar estas seis afirmações, não como premissas, mas como afirmações sumárias de seis passos no argumento cumulativo de Dawkins para a sua conclusão que Deus não existe. Mas até mesmo nesta construção gentil, a conclusão “Então, Deus não existe quase certamente” não decorre destes seis passos, até mesmo se nós aceitarmos que cada um deles é verdadeiro e justificado.

O que se pode concluir dos seis passos do argumento de Dawkins? No máximo, tudo o que aquilo sugere é que nós não deveríamos deduzir a existência de Deus baseados no aparecimento do design no universo. Mas esta conclusão é bastante compatível com a existência de Deus e até mesmo com nossa justificável crença na existência de Deus. Talvez nós deveríamos acreditar em Deus com base no argumento cosmológico ou no argumento ontológico ou no argumento moral. Talvez nossa convicção em Deus não esteja baseada em argumentos, mas fundamentada em experiência religiosa ou em revelação divina. Talvez Deus quer que nós acreditemos nEle simplesmente através da fé. O ponto é que rejeitando argumentos de design para a existência de Deus não faz nada que provar aquele Deus não exista ou até mesmo aquela convicção em Deus é injustificada. Realmente, muitos teólogos cristãos rejeitaram argumentos para a existência de Deus sem se obrigar assim ao ateísmo.

Assim o argumento de Dawkins para o ateísmo é até mesmo um fracasso se nós aceitarmos, como hipótese, todos seus passos. Mas, na realidade, vários destes passos são plausivelmente falsos. Dê só o passo (3), por exemplo. A reinvindicação de Dawkins aqui é que não é justificável deduzir o design como a melhor explicação da ordem complexa do universo porque então um problema novo surge: quem projetou o projetista?

Esta réplica é dividida em pelo menos duas partes. Primeiro, para reconhecer uma explicação como a melhor, não é necessário ter uma explicação da explicação. Este é um ponto elementar relativo a inferência para a melhor explicação como praticado na filosofia de ciência. Se arqueólogos que cavam na terra fossem descobrir coisas que se parecem com pontas da flecha e cabeças de machadinhas e fragmentos de cerâmica, eles seriam justificados deduzindo que estes artefatos não são o resultado de uma possibilidade de sedimentação e metamorfose, mas produtos de algum grupo desconhecido de pessoas, embora eles tivessem nenhuma explicação de quem estas pessoas eram ou de onde elas vieram. Semelhantemente, se os astronautas fossem encontrar uma pilha de maquinários na parte de trás da lua, eles seriam justificados deduzindo que era o produto de agentes inteligentes, extra-terrestres, até mesmo se eles não tivessem nenhuma idéia do que estes agentes extra-terrestres eram ou como eles chegaram lá. Para reconhecer uma explicação como a melhor, não é necessário poder explicar a explicação. Na realidade, requerendo assim conduziria a um infinito regresso de explicações, de forma que nada já poderia ser explicado e ciência seria destruída. Assim, neste caso, para reconhecer que o design inteligente é a melhor explicação do aparecimento de design no universo, não é preciso explicar o projetista.

Secundariamente, Dawkins pensa que no caso do projetista divino do universo, é o projetista da mesma maneira complexo como a coisa a ser explicada, de forma que nenhum avanço explicativo é feito. Esta objeção dispara todas tipo de perguntas sobre o papel da simplicidade avaliando explicações competitivas; por exemplo, como a simplicidade é equilibrada comparado com outros critérios tais como o poder explicativo, escopo explicativo, e assim sucessivamente. Mas deixa essas perguntas a parte. O engano fundamental de Dawkins mente na sua suposição de que um projetista divino é uma entidade comparável em complexidade com o universo. Como uma mente sem corpo, Deus é uma entidade notavelmente simples. Como uma entidade não-física, uma mente não está composta de partes e suas propriedades salientes, como autoconsciência, racionalidade e volição, são essenciais a ela. Em contraste com o universo contingente e matizado com todas suas quantidades inexplicáveis e constantes, uma mente divina é de modo surpreendente simples. Certamente tal mente pode ter idéias complexas - pode estar pensando, por exemplo, em cálculo infinitesimal, mas a própria mente é uma entidade notavelmente simples. Dawkins confundiu evidentemente as idéias de uma mente que pode, realmente, serem complexas, com uma mente, a qual é uma entidade inacreditavelmente simples. Então, postulando uma mente divina atrás do universo representa um avanço em simplicidade, para tudo que vale.

Outros passos no argumento de Dawkins também são problemáticos; mas eu penso que bastante foi dito para mostrar que o argumento dele não faz nada para arruinar uma inferência do design fundada na complexidade do universo, não servindo em nada como uma justificação do ateísmo.

sábado, 24 de outubro de 2009

Os guardas do túmulo


Por William Lane Craig

A narrativa de Mateus sobre a guarda junto ao túmulo de Jesus é amplamente considerada como lenda apologética. Embora algumas das razões dadas em apoio a esse julgamento não sejam importantes, duas são mais sérias: (1) a história é encontrada somente em Mateus e (2) a história pressupõe que Jesus previu sua ressurreição e que somente os líderes judeus compreenderam aquelas predições. Mas a ausência da história nos outros Evangelhos pode ser devida à falta de interesse deles em polêmica judaico-cristã. Não há boas razões para se negar que Jesus predisse sua ressurreição e, nesse caso, a segunda objeção se torna basicamente um argumento a partir do silêncio. Do lado positivo, a historicidade da narrativa é apoiada por duas considerações: (1) como apologia, a história não é resposta infalível à acusação de rapto do corpo e (2) uma reconstrução da história de tradição que subjaz à polêmica judaico-cristã torna improvável a ficcionalidade dos guardas.

Dentre os Evangelhos canônicos, somente Mateus relata a intrigante história da colocação de guardas junto ao túmulo de Jesus (Mt. 27.62-66; 28.4, 11-15). A história serve para propósito apologético: a refutação da alegação de que os próprios discípulos tinham roubado o corpo de Jesus e, assim, forjaram sua ressurreição. Por trás da história, como Mateus a conta, parece haver uma história de tradição de polêmica judaica e cristã, um padrão de afirmação e contra-afirmação, em desenvolvimento:2

Cristão: ‘O Senhor ressuscitou!’
Judeu: ‘Não, os discípulos roubaram o corpo.’
Cristão: ‘Os guardas junto ao túmulo teriam evitado tal roubo.’
Judeu: ‘Não, os discípulos roubaram o corpo enquanto os guardas dormiam.’
Cristão: ‘Os principais sacerdotes subornaram os guardas para dizer isso.’

Embora, dentre os quatro evangelistas, somente Mateus mencione os guardas junto ao túmulo (João menciona os guardas em conexão com a prisão de Jesus; cf. Mc. 14.44), o Evangelho de Pedro também relata a história dos guardas do túmulo, e sua narrativa pode muito bem ser independente de Mateus, já que as similaridades verbais são praticamente nulas3.

Conforme a versão de Mateus, no sábado — ou seja, no Sabá —, que ele estranhamente circunavega chamando-o de o dia depois do dia da Preparação, os principais sacerdotes e fariseus pediram a Pilatos uma guarda para proteger o túmulo, a fim de impedir os discípulos de roubarem o corpo e, assim, de “cumprir-se” a predição de Jesus sobre ressuscitar ao terceiro dia. Pilatos disse-lhes: “Tendes uma guarda; ide e dai-lhe a segurança que puderdes”. Não fica claro se isso significa que Pilatos lhes deu uma guarda romana ou se lhes falou para usar sua própria guarda do templo. O Evangelho de Pedro emprega uma guarda romana, mas isso é provavelmente inserido na tradição e pode ter sido concebido para enfatizar a força da guarda. Caso se queira mencionar uma consideração psicológica, Pilatos provavelmente estaria, a essa altura, tão enojado com os judeus que pode muito bem ter-lhes repelido; mas lendas não conhecem quaisquer limites psicológicos. Se Pilatos repeliu os judeus, pode-se, então, questionar por que essa parte da história foi contada, de qualquer maneira; mas, se os judeus realmente foram até Pilatos, talvez, então, esse detalhe foi lembrado. Se Pilatos lhes deu uma guarda, é estranho que Mateus não tenha tornado isso explícito, como o fez o Evangelho de Pedro, uma vez que fortaleceria sua apologética. O fato de que os guardas retornaram aos principais sacerdotes é evidência de que se pretende uma guarda judaica; contraste com o Evangelho de Pedro, em que a guarda romana relata a Pilatos os eventos que ocorreram junto ao túmulo. A menção do governador no v. 14 pode indicar uma guarda romana; mas, no caso, não estaria claro como os judeus poderiam fazer algo para livrá-los do problema. O fato de que os guardas romanos poderiam ser executados, ao dormirem durante a vigia, e o aceitar suborno poderiam, ainda mais, apontar para uma guarda judaica. No Evangelho de Pedro, o suborno e a história do sono são eliminados; Pilatos simplesmente ordena que a guarda romana mantenha silêncio. Caso de dê à história o benefício da dúvida, pode-se supor que a guarda era judaica; mas, se alguém está convencido de que a história é lenda insignificante, nada poderia evitar que se considere a guarda como romana. Assim, a guarda é fixada e o sepulcro, selado. Diz-se que Mateus omite o tema da unção, por causa da guarda e do selamento4; porém, isso não mantém qualquer apoio, pois as mulheres eram completamente desconhecedoras de que tais ações haviam sido tomadas no Sabá. Pelo contrário, poderia ser que Mateus estivesse seguindo diferentes tradições, nesse caso, visto que o v. 15 torna evidente que há uma história de tradição por trás da narrativa de Mateus5. Antes de as mulheres chegaram, um anjo do Senhor rola de volta a pedra, e os guardas ficam paralisados com medo. Não se diz que os guardas viram a ressurreição ou mesmo que esse é o momento da ressurreição6. Depois de as mulheres partirem, alguns da guarda foram até as autoridades judaicas, que os subornaram para dizer que os discípulos roubaram o corpo. Essa história tem sido espalhada entre os judeus até este dia, acrescenta Mateus.

O relato de Mateus tem sido quase universalmente rejeitado pelos críticos como sendo uma lenda apologética. Os valores para tal julgamento, entretanto, são de peso muito desigual. Por exemplo, o fato de que a história é uma resposta apologética à alegação de que os discípulos roubaram o corpo não significa, pois, que ela seja anistórica. A melhor maneira de responder a essa acusação não seria inventando ficções, mas narrando a verdadeira história do que aconteceu. Similarmente, de nada vale insistir na objeção teológica à história, como se faz frequentemente, de que ela vai além do testemunho restante do Novo Testamento, segundo o qual Jesus apareceu somente para os seus, mas permaneceu oculto aos inimigos dele7. Alguns teólogos ficam horrorizados com o pensamento de que guardas pagãos possam ter visto o “Cristo Ressurreto”8. Mas a narrativa não fala absolutamente nada sobre qualquer aparição de Jesus aos guardas. Pelo contrário, o anjo expressamente diz: “Ele não está aqui, porque ressurgiu”; mas o túmulo é, presumivelmente, aberto para que as mulheres possam vir e ver “o lugar onde jazia” (Mt. 28.6). E, em qualquer caso, o testemunho do Novo Testamento é que Jesus realmente apareceu a céticos, a descrentes e até mesmo a inimigos (Tomé, Tiago e Paulo). A ideia de que somente o olho da fé poderia ver o Jesus ressurreto é estranha aos Evangelhos e a Paulo, pois todos eles concordam a respeito da natureza física das aparições da ressurreição9. Às vezes, insiste-se que os principais sacerdotes e fariseus não iriam até Pilatos no dia de Sabá. Mas tal inferência não é muito séria, já que não se diz que eles foram em massa, mas meramente se reuniram ali10, e não se diz que eles adentraram ao pretório (cf. Jo. 18.28). De qualquer maneira, a objeção subestima a hipocrisia de homens que, ao menos de acordo com o relato do Evangelho, poderiam atar nos outros fardos pesados, mas eles mesmos não moveriam nem um dedo para ajudar. Nem é muito persuasivo objetar à história, por ela conter absurdos inerentes — por exemplo, que os guardas não saberiam que eram os discípulos porque estavam dormindo ou que uma guarda romana nunca concordaria em espalhar história pela qual poderiam ser executados11. A primeira supõe que os judeus não poderiam ter inventado uma estúpida história para encobrir tudo; realmente, essa história era tão boa quanto qualquer outra. Pelo menos, a inferência de que foram os discípulos de Jesus não era tão forçado. Pois quem mais poderia roubar o corpo? O segundo absurdo supõe que a guarda era romana, para o que a evidência positiva é débil. E, mesmo que a guarda fosse romana, talvez a promessa dos judeus de “satisfazer ao governador” significava contar-lhe a verdade sobre o leal serviço dos guardas, caso concordassem em mentir ao povo.

Muito pelo contrário, as dificuldades mais sérias desta história são duas: (1) não é relatada na história pré-marcana da paixão, nem nos outros Evangelhos e (2) pressupõe não somente que Jesus tenha predito sua ressurreição ao terceiro dia, mas também que os judeus entenderam isso claramente, enquanto os discípulos permaneceram na ignorância. Em relação à primeira, é excessivamente estranho que os outros Evangelhos nada soubessem de tão importante evento como a colocação de uma guarda ao redor do túmulo. Isso sugere que o relato é uma lenda posterior, refletindo anos da polêmica judaico-cristã. A designação de Jesus como impostor é, de fato, marca da polêmica judaica contra o Cristianismo (Diálogo com Trifão 208, de Justino; Testamento dos Doze Patriarcas (Levi) 16.3). Mas, talvez, esse polêmico interesse fornece a própria razão de por que esse evento, mesmo se histórico, não foi incluído na história pré-marcana da paixão. Pois a história pré- marcana da paixão surgiu na vida da Urgemeinde [comunidade], antes da Auseinandersetzung [disputa] com o Judaísmo e, assim, antedata a polêmica judaico-cristã. Já que os guardas desempenharam virtualmente nenhum papel nos eventos da descoberta do túmulo vazio — na realidade, o relato mateano não exclui que a guarda já havia partido antes de as mulheres chegarem — a história pré-marcana da paixão pode simplesmente omiti-los. Se a calúnia segundo a qual os discípulos roubaram o corpo estava restrita a certos grupos (”essa história tem-se divulgado entre os judeus [para Ioudaiois] até os dias de hoje”), não se pode, então, excluir que Lucas ou João poderiam não ter essas tradições. E os evangelistas, com frequência, inexplicavelmente omitem o que parecem ser incidentes importantes que podem lhes ter sido conhecidos (por exemplo, a grande omissão de Lucas, de Mc. 6.45 — 8.26), de modo que é perigoso usar uma omissão como teste para historicidade.

Quanto à segunda objeção, devemos ser cuidadosos para não excluir, a priori, a possibilidade de que Jesus realmente predisse sua ressurreição, já que de antemão eliminá- la seria retornar ao racionalismo teológico do século XVIII em sua pressuposição contra o sobrenatural. E, se pressuposições filosóficas não podem excluir a predição de Jesus, tampouco o podem as teológicas — por exemplo, de que isso representa uma espécie de “triunfalismo” que minimiza a extensão do sacrifício de Jesus, uma vez que ele sabia que ressuscitaria. Concepções teológicas sobre o que é “apropriado” para a pessoa e obra de Jesus não podem ditar à história o que deve ter acontecido; antes, concepções teológicas podem simplesmente ter de mudar à luz da história, isso sendo atraente ou não às nossas sensibilidades religiosas. A única base para aceitar ou rejeitar as predições de Jesus como históricas deve ser empírica.

Quais, então, são as bases empíricas para se pensar que Jesus não predisse sua ressurreição? Às vezes, assevera-se que a predição de Jesus sobre sua ressurreição é incompatível com o desespero e desesperança dos discípulos. Mas isso falha em contar com as declarações de que os discípulos não podiam entender como um Messias prestes a morrer e ressuscitar seria possível (Mc. 8.32, 9.10). O conceito lhes era totalmente estranho e não fazia sentido de acordo com as concepções do triunfante Rei de Israel, ainda que — Marcos enfatiza — Jesus lhes tenha dito abertamente que sofreria, seria morto e ressuscitaria (Mc. 8.32). É interessante que, quando Jesus diz a Marta que Lázaro ressuscitará, sua reação é: “Sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia” (Jo. 11.24). Os discípulos podem não ter tido qualquer expectativa de que a profetizada ressurreição de Jesus seria diferente; na realidade, isso fica implícito na questão deles concernente à vinda escatológica de Elias, anterior à ressurreição (Mc. 9.10,11)12. Assim, o fato de que os discípulos falharam em compreender o significado das predições é, realmente, muito plausível e nisso não se pode insistir contra a historicidade delas. Talvez, possa afirmar-se que a linguagem das predições é ex ecclesia e que, portanto, são escritas remontando à vida de Jesus. Mas, de fato, não há palavras nessas predições que o próprio Jesus poderia não ter usado. O uso de “terceiro dia” poderia ter significado somente um curto período13. Mas mesmo se esse detalhe foi acrescentado a partir do querigma, não se acarreta que Jesus poderia não ter predito sua ressurreição. Da mesma maneira, o discurso dos judeus a Pilatos na construção de Mateus, e o tema do terceiro dia refletem a formulação querigmática de I Coríntios 15.4. Na verdade, os judeus podem ter pedido uma guarda para ali ser posicionada durante período indeterminado de tempo, ou durante a festa. As predições da ressurreição terem tomado coloração querigmática não prova que elas não foram proferidas.

Talvez, a mais séria dificuldade com a história da guarda, contudo, é que, se os discípulos não compreenderam o sentido das predições da ressurreição, tampouco os judeus, que tinha muito menos contato com Jesus, entenderiam. Esse é, entretanto, essencialmente um argumento do silêncio, uma vez que Mateus não conta como os judeus souberam da predição de Jesus. Supõe que se têm registrado nos Evangelhos todos os casos em que Jesus falou de sua ressurreição ou que, se essa predição foi levada sub- repticiamente aos judeus, devemos saber sobre isso. É possível que as ações dos judeus não foram motivadas, de modo algum, por qualquer conhecimento das profecias da ressurreição, mas foram simplesmente pensamento posterior para prevenir qualquer problema que pudesse ser causado pelos discípulos, junto ao túmulo, durante a festa. Tomada em conjunto, essas considerações têm peso cumulativo, entretanto, e por si mesmas provavelmente levariam alguém ao ceticismo quanto à historicidade da narrativa da guarda.

Porém, há outras considerações que ficam positivamente a favor dela. Por exemplo, se a história é uma ficção apologética concebida para excluir o roubo do corpo pelos discípulos, a história não é inteiramente bem-sucedida, pois existe óbvio período de tempo durante o qual os discípulos poderiam ter roubado o corpo sem ser detectado — a saber, entre seis horas de sexta-feira à noite e algum momento de sábado de manhã. Por o túmulo já estar vazio quando os guardas o abriram, é possível que já estivesse vazio quando os guardas selaram a pedra. Mateus se esquece de dizer que o sepulcro foi aberto e checado antes de ser selado, de modo que é possível que os discípulos tenham removido o corpo e recolocado a pedra na sexta-feira à noite, após a partida de José. É claro que consideraríamos tal artifício como historicamente absurdo, mas a questão é que, se a guarda é uma invenção cristã visando a refutar a alegação judaica de que os conspiradores discípulos tinham roubado o corpo, o escrito não fez um trabalho muito bom. Para a maneira como uma lenda apologética lida com essa história, veja o Evangelho de Pedro: os escribas, fariseus e anciãos dirigiram-se ao sepulcro, e todos eles rolaram a grande pedra pela entrada do túmulo (sem menção de José de Arimateia, apesar de tudo!), selaram-no sete vezes e mantiveram vigilância. No domingo de manhã, o próprio Jesus é visto saindo do túmulo com dois anjos, e as testemunhas incluíram não somente os soldados e os anciãos, mas também multidão de Jerusalém e do interior que viera para ver o sepulcro! Essa é apologética infalível: os romanos e os judeus são os responsáveis pelo sepultamento de Jesus no mesmo dia da morte dele, permanecem ali sem interrupção e, quando o túmulo se abre, não está vazio, mas Jesus sai de lá diante dos olhos de multidão de testemunhas. Em contraste, no relato de Mateus, a guarda é consideração posterior; o fato de que não foram considerados e colocados ali até o próximo dia poderia refletir o fato de que somente na sexta-feira à noite os judeus souberam que José tinha, contrariamente às expectativas, colocado o corpo em um túmulo, em vez de permitir que fosse descartado em vala comum. Isso poderia ter motivado a incomum visita deles a Pilatos, no dia seguinte.

Mas, talvez, a mais forte consideração a favor da historicidade da guarda é a história da polêmica pressuposta nesse relato. A calúnia judaica de que os discípulos haviam roubado o corpo era, provavelmente, a reação à proclamação cristã de que Jesus ressuscitara14. Essa alegação judaica também é mencionada no Diálogo com Trifão 108, de Justino. Para desmentir tal acusação, os cristãos precisariam apenas de indicar que a guarda junto ao túmulo teria evitado o roubo e que ficaram imobilizados com medo, quando o anjo apareceu. Nesse estágio da controvérsia, não há necessidade de se mencionar o suborno à guarda. Isso surge apenas quando a polêmica judaica responde que os guardas tinham caído no sono, permitindo, assim, que os discípulos roubassem o corpo. O sono dos guardas poderia simplesmente ter sido desenvolvimento judaico, uma vez que não serviria a qualquer propósito para a polêmica cristã. A resposta cristã foi que os judeus subornaram a guarda para dizer isso, e é nesse ponto que a controvérsia permaneceu no tempo da escrita de Mateus. Porém, se essa é provável reconstrução da história da polêmica, fica difícil acreditar que a guarda é anistórica15. Em primeiro lugar, é improvável que os cristãos inventariam uma ficção como a guarda, que todos, especialmente os oponentes judeus, perceberiam nunca ter existido. Mentiras são a mais frágil espécie de apologética que pode haver. Uma vez que a controvérsia judaico-cristã sem dúvida se originou em Jerusalém, é difícil entender como os cristãos poderiam ter tentado refutar a acusação dos oponentes deles, com uma falsificação que teria sido evidentemente irreal, já que nas redondezas não havia guardas que afirmaram ter se postado junto ao túmulo. Mas, em segundo lugar, é ainda mais improvável que, confrontados com mentira tão palpável, os judeus teriam, em vez de expô-la e denunciá-la como tal, começado a criar outra mentira, mais estúpida, de que os guardas caíram no sono enquanto os discípulos violaram o túmulo e foram embora com o corpo. Se a existência da guarda fosse falsa, a polêmica judaica nunca teria tomado o rumo que tomou. Antes, a controvérsia teria parado ali mesmo, com a renúncia de que a guarda havia sido fixada pelos judeus. Nunca chegaria ao ponto em que os cristãos teriam de inventar uma terceira mentira, a de que os judeus subornaram a fictícia guarda. Então, enquanto há razões para se duvidar da existência da guarda junto ao túmulo, há igualmente sérias considerações a seu favor. Parece melhor deixar a questão em aberto. Ironicamente, o valor do relato de Mateus para as evidências a favor da ressurreição nada tem a ver com a guarda, de maneira alguma, ou com a intenção dele de refutar a alegação de que os discípulos roubaram o corpo. A teoria da conspiração tem sido universalmente rejeitada com bases morais e psicológicas, de modo que a narrativa da guarda, como tal, é de fato muito supérflua. Com guarda ou sem guarda, nenhum crítico atual acredita que os discípulos poderiam ter roubado o túmulo e falseado a ressurreição. Antes, o verdadeiro valor do relato de Mateus é informação incidental — e por essa razão muito mais confiável — de que a polêmica judaica nunca negou que o túmulo estivesse vazio, mas em vez disso tentou explicar a situação. Portanto, os próprios antigos oponentes dos cristãos dão testemunho ao fato do túmulo vazio16.

Bibliografia

1 Esta discussão provém de pesquisa conduzida na Universidade de Munique, com apoio da Fundação Alexander von Humboldt.

2 Cf. Paul Rohrbach, Die Berichte über die Auferstehung Jesu Christi (Berlim: Georg Reimer, 1898), p. 79.

3 Conforme B. A. Johnson, “The Empty Tomb in the Gospel of Peter Related to Mt. 28.1-7″ (dissertação de doutorado, Universidade Harvard, 1966), p. 17. Isso não compromete alguém com a visão de Johnson de que essa era uma tradição de aparição.

4 Kirsopp Lake, The Historical Evidence for the Resurrection of Jesus Christ (Londres: Williams & Norgate, 1907; Nova Iorque: G. P. Putnam’s Sons, 1907), p. 61; Walter Grundmann, Das Evangelium nach Mathäus, 3rd ed., THKNT I (Berlim: Evangelische Verlagsanstalt, 1972), p. 568; Josef Blinzter, ‘Die Grablegung Jesu in historischer Sicht’, in Resurrexit, ed. Edouard Dhanis (Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1974), p. 82.

5 Evidências de tradição pré-mateana também são encontradas em várias palavras que são hapax legomena para o Novo Testamento: epaurion, paraskeue, planos/plane, kaustodia, asphalizo; igualmente, a expressão “os principais sacerdotes e fariseus” (cf. 21.45) é incomum em Mateus e nunca aparece em Marcos ou Lucas, mas é comum em João (7.32, 45; 9.47,57; 18.3). Para discussão, veja I. Broer, Die Urgemeinde und das Grab Jesu, SANT 31 (Munique: Kösel Verlag, 1972), pp., 69-78; F. Neirynck, ‘Les femmes au tombeau: Étude de la rédaction mathéenne’, NTS 15 (1968-9): pp. 168-90. Sobre a independência de Mateus e Marcos, veja E. Ruckstuhl and J. Pfammatter, Die Auferstehung Jesu Christi (Lucerna e Munique: Rex, 1968).

6 Contraste o Evangelho de Pedro 8.35-42:

Ora, na noite em que o dia do Senhor alvoreceu, quando os soldados, dois a dois em cada turno, mantinham a guarda, ressoou alta voz no céu, e viram os céus abertos e dois homens de lá desceram em grande brilho e se aproximaram ao sepulcro. A pedra que havia sido colocada junto à entrada do sepulcro começou, por si mesma, a rolar, e moveu-se para o lado; e o sepulcro foi aberto, e ambos os jovens entraram nele. Quando, então, os soldados viram isso, despertaram o centurião e os anciãos — pois eles também estavam lá para ajudar na vigilância. E, enquanto relatavam o que tinham visto, viram novamente três homens saindo do sepulcro, e dois deles sustentando o outro, e uma cruz os seguindo, e as cabeças dos dois chegando até o céu; mas aquele que, pelas mãos, era levado por eles ultrapassava os céus. E ouviram uma voz dos céus, gritando: ‘Pregaste aos que dormem?’, e da cruz ouviu-se a resposta ‘Sim’.”

e a Ascensão de Isaías 3.16:

“Gabriel, o Anjo do Espírito Santo, e Miguel, o chefe dos santos anjos, ao terceiro dia abrirão o sepulcro: e o Amado sentado sobre seus ombros se revelará”.

7 Grundmann, Matthäus, p. 565; John E. Alsup, The Post-Resurrection Appearance Stories of the Gospel- Tradition, CTM A5 (Stuttgart: Calwer Verlag. 1975), p. 117.

8 Assim, Grass diz que, além das particularidades, a história da guarda é inacreditável, porque guardas pagãos teriam visto a ressurreição (Hans Grass, Ostergeschehen und Osterberichte, 4. ed. [Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1970], p. 25.). Von Campenhausen também declara que a história implica que guardas pagãos seriam testemunhas da ressurreição, e não podemos concordar que isso deveria acontecer (Hans Freiheirr von Campenhausen, Der Ablauf der Osterereignisse und das leere Grab, 3. ed. rev., SHAW [Heidelberg: Carl Winter, 1966], p. 29). Similarmente, O’Collins faz a estarrecedora asserção de que, se Anás e Caifás estivessem com os discípulos quando Jesus apareceu, eles não teriam visto nada (Gerald O’Collins, The Easter Jesus [Londres: Carton, Longman & Todd, 1973], p. 59). E isso apesar do que Grass repetidamente descreve como o “realismo massivo” dos Evangelhos! Cf. Koch, Auferstehung, pp. 59-60, 204, que se escandaliza com a objetividade das aparições do evangelho, as quais ele em vão tenta construir em categorias completamente subjetivas.

9 Sobre a concordância entre Paulo e os Evangelhos acerca da natureza do corpo da ressurreição, veja Robert H. Gundry, Soma in Biblical Theology (Cambridge: Cambridge University Press, 1976), pp. 159-83; Ronald J. Sider, ‘The Pauline Conception of the Resurrection Body in I Corinthians XV.35-54′, NTS 21 (1975): pp. 428-39; Alexander Sand, Der Begriff ‘Fleisch’ in den paulinischen Hauptbriefen, BU 2 (Regensburg: Friedrich Pustet, 1967), pp. 152-3; Jean Héring, La première épitre de saint Paul aux Corinthiens, 2. ed., CNT 7 (Neuchatel, Suíça: Delachaux et Niestlé, 1959), pp. 146-8; H. Clavier, ‘Brèves remarques sur la notion de soma pneumatikon‘, in The Background of the New Testament and Its Eschatology, ed. W. D. Davies e W. Daube (Cambridge University Press, 1956), pp. 342-62; Wilhelm Michaelis, Die Erscheinungen der Auferstandenen (Basileia: Heinrich Majer, 1944), p. 96.

10 Veja Ernst Lohmeyer, Das Evangelium des Matthäus, 4. ed., ed. W. Schmauch, KEKNT (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1967), p. 400.

11 Lake, Evidence, p. 178; Willi Marxsen, The Resurrection of Jesus of Nazareth, trad. Margaret Kohl (Londres: SCM, 1970), p. 46; Grundmann, Mätthaus, p. 571. Orr pensa que os guardas aceitando suborno não é algo tão forçado, uma vez que a fuga deles já era violação de dever (James Orr, The Resurrection of Jesus (Londres: Hodder & Stoughton, 1909], p. 160). Von Campenhausen levanta outros absurdos, tal como o fato de que a guarda se reportou aos judeus e que os cristãos, apesar da mentira dos guardas, sabiam de tudo (Von Campenhausen, ‘Ablauf’, p. 29). Mas o primeiro ponto é evidência de que a guarda era judaica; o segundo não nos deve surpreender, já que conspirações secretas quase sempre vêm à luz. De qualquer maneira, a conversa dos judeus com Pilatos é provavelmente uma imaginativa reconstrução cristã do que eles inferiram ter acontecido, o que explicaria o tema do terceiro dia e a linguagem querigmática empregada.Perry considera a colocação de uma guarda judaica junto ao túmulo, pelos judeus, sem conhecimento da predição de Jesus, como historicamente defensável (Michael Perry, The Easter Enigma, com Introdução de Austin Farrer [Londres: Faber & Faber, 1959], pp. 98-9).

12 Embora a doutrina da ressurreição seja atestada no Antigo Testamento e tenha florescido no período intertestamentário, a concepção judaica sempre era de uma ressurreição geral e escatológica. Em lugar algum, encontra-se qualquer noção da ressurreição de um indivíduo isolado ou de uma ressurreição antes do fim do mundo (Veja as observações de Ulrich Wilckens, Auferstehung, TT 4 [Stuttgart e Berlim: Kreuz Verlag, 1970], p. 31; Joachim Jeremias, ‘Die älteste Schicht der Osterüberlieferung’, in Resurrexit, p. 194). Portanto, o equívoco dos discípulos tem conotação histórica.

13 Barnabas Lindars, New Testament Apologetic: The Doctrinal Significance of Old Testament Quotations (Filadélfia: Westminster Press, 1961; Londres: SCM Press, 1961), pp. 59- 72; O’Collins, Easter, p. 12. Ainda que se concorde com Lehmann que o tema do terceiro dia é expressão teológica, retirada da LXX e posteriormente elaborada na exegese rabínica, significando o dia da libertação, vitória e tomada de controle da parte de Deus (Karl Lehmann, Auferweckt am dritten Tag nach der Schrift, QD 38 [Friburgo: Herder, 1968], pp. 262-90), não há motivo, se a igreja primitiva poderia ter usado essa expressão, para que Jesus não a pudesse ter usado com o mesmo sentido, ao predizer sua ressurreição. Hooke também nos lembra que todos os ditos escatológicos de Jesus pressupõem sua ressurreição, como o fazem suas declarações durante a Última Ceia (S. H. Hooke, The Resurrection of Christ as History and Experience [Londres: Darton, Longman & Todd, 1967], p. 30; cf. Michael Ramsey, The Resurrection of Christ [Londres: Centenary Press, 1945], pp. 38-9).

14 A proclamação pode ter sido nas palavras duas vezes repetidas em Mt. 27.64; 28.7: “Ele ressuscitou dos mortos”. Contrariamente a Grass, Ostergeschehen, p. 23, isso poderia evocar a reação de que os discípulos roubaram o corpo, se o próprio túmulo vazio era argumento apologético.

15 O argumento pressupõe que ou que a tradição subjacente é pré-mateana ou que o próprio evangelho foi escrito antes de 70 AD, pois depois desse tempo as pessoas em posição de saber a verdade teriam sido mortas ou dispersadas. Que a tradição seja pré-mateana fica claro: (1) a polêmica judaica por trás da história muito provavelmente surgiu da própria Jerusalém, em reação à proclamação apostólica da ressurreição. (2) Uma reconstrução da história da polêmica mostra que Mateus herdou a controvérsia sobre a guarda. Que ele não tenha inventado a guarda desde o princípio para contra-atuar diante da simples acusação judaica de roubo fica evidente a partir dos elementos do sono e do suborno dos guardas. (3) A própria narrativa contém características não-mateanas, como indicado na nota 5. Que o Evangelho de Pedro conheça tradição não- mateana da história da guarda também indica que a história não se originou com Mateus. Uma vez que a controvérsia, dessa maneira, antedata a destruição de Jerusalém, é muito difícil construí-la como calorosa discussão sobre uma entidade imaginária. Essa conclusão só é reforçada se o próprio Mateus foi escrito antes de 70 AD, como sustentado, por exemplo, por Bo Reicke, ‘Synoptic Prophecies on the Destruction of Jerusalem’, in Studies in New Testament and Early Christian Literature, ed. D. E. Aune (Leiden: E. J. Brill, 1972), pp. 121-34; J. A. T. Robinson, Redating the New Testament (Londres: SCM Press, 1976), pp. 19-26, 86-117.

16 Mahoney objeta que os judeus argumentaram como fizeram somente porque teria sido “sem graça” dizer que o túmulo era desconhecido ou estava perdido (Robert Mahoney, Two Disciples at the Tomb, TW 6 [Berna: Herbert Lang, 1974], p. 100). Mas nisso Grass está correto: se o sepulcro fosse desconhecido ou estivesse perdido, os pregadores da ressurreição teriam se deparado com a reação de Atos 2.13: “Eles estão embriagados com vinho”. Seriamente duvido se o ser “sem graça”, incolor, seria considerado pela hierarquia judaica como algo tão grosseiro que eles preferiram inventar o túmulo vazio para os cristãos. E, se o local do sepultamento de Jesus era conhecido, como é provável (Blinzler, ‘Grablegung’, pp. 94-6, 101-2), a reação dos judeus se torna ainda mais problemática: pois, em vez de apontarem para o túmulo de Jesus ou exporem o cadáver, eles se emaranharam em desesperada série de absurdos, tentando explicar a ausência do corpo dele. O fato de os inimigos do Cristianismo terem se sentido obrigados a explicar o túmulo vazio mostra não somente que o túmulo era conhecido (confirmação da história do sepultamento), mas também que estava vazio.

sábado, 17 de outubro de 2009

Redescobrindo o Jesus histórico: as evidências a favor de Jesus


Por William Lane Craig

Tradução: Djair Dias Filho

Cinco razões são apresentados para se pensar que críticos que aceitam a credibilidade histórica dos relatos sobre Jesus, no Evangelho, não possuem um especial ônus da prova relativo aos críticos mais céticos. Em seguida, a historicidade de alguns aspectos específicos da vida de Jesus é abordada, incluindo Seu próprio conceito radical de ser o divino Filho de Deus, Seu papel como realizador de milagres e Sua ressurreição dentre os mortos.

No último texto, vimos que os documentos do Novo Testamento são as fontes históricas mais importantes para Jesus de Nazaré. Os chamados evangelhos apócrifos são falsificações que surgiram muito depois e são, na maior parte, elaborações a partir dos Quatro Evangelhos do Novo Testamento.

Isso não significa que não existem fontes além da Bíblia que se referem a Jesus. Existem. Faz-se referência a Ele em escritos pagãos, judaicos e cristãos, todos fora do Novo Testamento. O historiador judeu Josefo é especialmente interessante. Nas páginas de suas obras, pode-se ler sobre personagens neotestamentárias como os sumos sacerdotes Anás e Caifás, o governador romano Pôncio Pilatos, o rei Herodes, João Batista, e até mesmo o próprio Jesus e seu irmão Tiago. Tem havido, também, interessantes descobertas arqueológicas igualmente reportando-se aos Evangelhos. Por exemplo, em 1961, a primeira evidência arqueológica concernente a Pilatos foi desenterrada na cidade de Cesaréia; era uma inscrição de uma dedicação contendo o nome e o título de Pilatos. Ainda mais recentemente, em 1990, o verdadeiro túmulo de Caifás, o sumo sacerdote que presidiu ao julgamento de Jesus, foi descoberto ao sul de Jerusalém. Realmente, o túmulo sob a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém é, com toda probabilidade, o túmulo em que o próprio Jesus foi colocado por José de Arimatéia, após a crucificação. De acordo com Luke Johnson, estudioso neotestamentário da Universidade Emory,

Até mesmo o historiador mais crítico pode confiantemente afirmar que um judeu chamado Jesus viveu como um mestre e operador de milagres na Palestina, durante o reinado de Tibério, foi executado por crucificação sob o prefeito Pôncio Pilatos e continuou a ter seguidores após sua morte.1

Ainda assim, se queremos quaisquer detalhes sobre a vida e os ensinamentos de Jesus, devemos nos voltar para o Novo Testamento. Fontes extrabíblicas confirmam o que lemos nos Evangelhos, mas não nos dizem realmente algo novo. A questão, portanto, deve ser: quão confiáveis historicamente são os documentos do Novo Testamento?

Ônus da prova

Aqui, confrontamos a questão crucial do ônus da prova. Deveríamos supor que os Evangelhos são confiáveis a menos que sejam provados como não confiáveis? Ou deveríamos supor que os Evangelhos não são confiáveis até que sejam provados como confiáveis? Eles são inocentes até que se prove serem culpados ou culpados até que se prove serem inocentes? Os estudiosos céticos quase sempre supõem que os Evangelhos são culpados até que se prove serem inocentes, isto é, consideram que os Evangelhos não são confiáveis a menos e até que se prove que estão corretos quanto a algum fato particular. Não estou exagerando: esse é realmente o procedimento dos críticos céticos.

Mas eu quero listar cinco razões de por que eu penso que deveríamos supor que os Evangelhos são confiáveis até que se prove estarem errados:

1. Não houve tempo suficiente para influências lendárias eliminarem os fatos históricos. O intervalo de tempo entre os próprios eventos e o registro deles nos Evangelhos é muito curto para ter permitido que a memória do que tinha ou não acontecido realmente fosse apagada.

2. Os Evangelhos não são análogos a contos de fada ou “lendas urbanas” contemporâneas. Contos como os de Paul Bunyan e Pecos Bill ou lendas urbanas contemporâneas como a do “caroneiro fantasma” raramente concernem a indivíduos históricos individuais e são, assim, não análogos às narrativas evangélicas.

3. A transmissão judaica de tradições sagradas era altamente desenvolvida e confiável. Em uma cultura oral como aquela da Palestina do século I, a habilidade de memorizar e reter longos tratados de tradição oral era altamente prezada e desenvolvida. Desde pequenas, as crianças no lar, no ensino primário, e na sinagoga eram ensinadas a memorizar fielmente a tradição sagrada. Os discípulos teriam exercitado cuidado semelhante com os ensinos de Jesus.

4. Havia significantes restrições ao embelezamento de tradições sobre Jesus, como, por exemplo, a presença de testemunhas oculares e a supervisão dos apóstolos. Uma vez que aqueles que tinham visto e ouvido Jesus continuaram a viver e a tradição sobre Jesus permaneceu sob a supervisão dos apóstolos, esses fatores atuariam como uma verificação natural às tendências a elaborar os fatos em uma direção contrária à preservada por aqueles que tinham conhecido Jesus.

5. Os escritores dos Evangelhos tinham um comprovado registro de confiabilidade histórica.

Não tenho tempo suficiente para falar sobre todos esses pontos. Então, deixe-me dizer algo sobre o primeiro e o último.

1. Não houve tempo suficiente para influências lendárias eliminarem os fatos históricos. Nenhum estudioso moderno pensa nos Evangelhos como mentiras descaradas, o resultado de uma conspiração em massa. O único lugar em que se pode encontrar tais teorias da conspiração é em literatura sensacionalista popular ou em antiga propaganda por detrás da Cortina de Ferro. Quando se lêem as páginas do Novo Testamento, não há dúvida de que aquelas pessoas sinceramente acreditavam na verdade do que proclamavam. Em vez disso, desde o tempo de D. F. Strauss, estudiosos céticos têm explicado os Evangelhos como lendas. Como a brincadeira do telefone sem-fio, enquanto as histórias sobre Jesus foram transmitidas ao longo das décadas, elas foram desordenadas e exageradas e mitologizadas, até que os fatos originais fossem todos perdidos. O sábio andarilho judeu foi transformado no divino Filho de Deus.

Um dos principais problemas com a hipótese da lenda, contudo, que quase nunca é endereçado por críticos céticos, é que o tempo entre a morte de Jesus e a redação dos Evangelhos é simplesmente muito curto para que isso acontecesse. Esse ponto foi bem explicado por A. N. Sherwin-White, em seu livro Roman Society and Roman Law in the New Testament2 [Sociedade Romana e Lei Romana no Novo Testamento]. O doutor Sherwin-White não é teólogo; ele é um historiador profissional sobre as épocas anteriores e contemporâneas a Jesus. De acordo com Sherwin-White, as fontes para a história romana e grega são freqüentemente tendenciosas e deslocadas uma ou duas gerações ou mesmo séculos em relação aos eventos que registram. Apesar disso, diz ele, os historiadores reconstroem com confiança o curso da história romana e grega. Por exemplo, as duas mais primitivas biografias de Alexandre Magno foram escritas por Ariano e Plutarco mais de quatrocentos anos depois da morte de Alexandre, e mesmo assim os historiadores clássicos ainda as consideram como fidedignas. As fabulosas lendas sobre Alexandre Magno não se desenvolveram até os séculos após esses dois escritores. De acordo com Sherwin-White, os escritos de Heródoto nos permitem determinar a velocidade com que a lenda se acumula, e os testes mostram que mesmo duas gerações é duração de tempo muito curta para permitir que tendências lendárias destruam o núcleo de fatos históricos. Quando o doutor Sherwin- White se volta para os Evangelhos, ele declara que, para que os Evangelhos sejam lendas, a velocidade de acúmulo lendário teria de ser “inacreditável”. Mais gerações seriam necessárias.

De fato, adicionar-se um espaço de tempo de duas gerações à morte de Jesus leva ao século II, bem quando os Evangelhos apócrifos começam a aparecer. Eles contêm todos os tipos de histórias fabulosas sobre Jesus, tentando preencher os anos entre Sua infância e o começo de Seu ministério, por exemplo. Essas são as lendas óbvias procuradas pelos críticos, não os Evangelhos bíblicos.

Esse ponto se torna ainda mais devastador para o ceticismo quando recordamos que os próprios Evangelhos usam fontes que remontam a ainda mais perto aos eventos da vida de Jesus. Por exemplo, a história do sofrimento e morte de Jesus, comumente chamado de a História da Paixão, foi provavelmente não originalmente escrito por Marcos. Em vez disso, Marcos usou uma fonte para essa narrativa. Uma vez que Marcos é o Evangelho mais primitivo, sua fonte deve ser mais primitiva ainda. De fato, Rudolf Pesch, alemão especialista em Marcos, diz que a fonte da Paixão deve remontar a, pelo menos, 37 A.D., apenas sete anos após a morte de Jesus3.

Ou, novamente, Paulo, em suas cartas, transmite informações concernentes a Jesus sobre Seu ensino, Sua Última Ceia, Sua traição, crucificação, sepultamento e aparições da ressurreição. As cartas de Paulo foram escritas até mesmo antes dos Evangelhos, e algumas de suas informações, como, por exemplo, o que transmite em sua primeira carta à igreja de Corinto sobre as aparições da ressurreição [I Co 15:3-8], têm sido datadas dentro dos cinco anos após a morte de Jesus. Torna-se simplesmente irresponsável falar de lendas em tais casos.

5. Os escritores dos Evangelhos tinham um comprovado registro de confiabilidade histórica. Novamente, tenho tempo somente para observar um exemplo: Lucas. Lucas foi o autor de uma obra em duas partes: o Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos. Estes são, na verdade, uma só obra, e são separados em nossas Bíblias somente porque a igreja agrupou em conjunto os Evangelhos no Novo Testamento. Lucas é o escritor evangélico que escreve mais autoconscientemente como historiador. No prefácio a sua obra, ele escreve:

Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio; para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.

Este prefácio está escrito em terminologia do grego clássico como a que era usada por historiadores gregos; depois disso, Lucas muda para um grego mais comum. Mas ele colocou em alerta seu leitor de que ele pode escrever, se desejasse fazê-lo, como um erudito historiador. Ele fala de sua extensa investigação da história que está prestes a contar e assegura-nos de que é baseada em informações de testemunhas oculares e está de acordo com a verdade.

Ora, quem era esse escritor que chamamos de Lucas? Ele, claramente, não era testemunha ocular da vida de Jesus. Mas descobrimos sobre ele um fato importante, a partir do livro de Atos. Iniciando no capítulo dezesseis de Atos, quando Paulo chega a Trôade, na moderna Turquia, o autor repentinamente começa a usar a primeira pessoa do plural: “navegando de Trôade, fomos em linha reta para a Samotrácia”, “de lá fomos para Filipos”, “saímos da cidade para a beira do rio, onde julgávamos haver um lugar de oração”, etc. A explicação mais óbvia é que o autor se unira a Paulo em sua viagem evangelística pelas cidades mediterrâneas. No capítulo 21, ele acompanha Paulo de volta à Palestina e, finalmente, a Jerusalém. Isso significa que o escritor de Lucas-Atos estava, na realidade, em contato direto com as testemunhas oculares da vida e ministério de Jesus em Jerusalém. Críticos céticos têm feito acrobacias para evitar essa conclusão. Dizem que o uso de primeira pessoa do plural em Atos não deveria ser tomado literalmente; é apenas um dispositivo literário comum nas histórias antigas de viagens marítimas. Não tem importância muitas das passagens em Atos não serem sobre viagens marítimas de Paulo, mas ocorrerem em terra! O ponto mais importante é que essa teoria, quando verificada, transforma-se em pura fantasia.4 Simplesmente, não havia qualquer dispositivo literário de viagens marítimas em primeira pessoa do plural — tem-se mostrado que tudo isso não passa de ficção acadêmica! Não há como evitar a conclusão de que Lucas-Atos foi escrito por um viajante companheiro de Paulo que teve a oportunidade de entrevistar testemunhas oculares da vida de Jesus enquanto ele esteve em Jerusalém. Quem eram algumas dessas testemunhas? Talvez, podemos ter alguma sugestão ao subtrair do Evangelho de Lucas tudo que é encontrado nos outros evangelhos, e ver o que é peculiar a Lucas. O que se descobre é que muitas das narrativas peculiares a Lucas são conectadas a mulheres que seguiram Jesus: pessoas como Joana e Suzana e, significativamente, Maria, mãe de Jesus.

Seria o autor confiável, tendo obtido os fatos diretamente? O livro de Atos nos permite responder decisivamente a essa questão. O livro de Atos sobrepõe-se significativamente com a história secular do mundo antigo, e a exatidão histórica de Atos é indiscutível. Isso foi recentemente demonstrado, novamente, por Colin Hemer, estudioso clássico que se voltou para os estudos neotestamentários, em seu livro The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History [O Livro de Atos no Contexto da História Helenística].5 Hemer vasculha o livro de Atos com um pente fino, tirando dele uma riqueza de conhecimento histórico, percorrendo desde o que seria conhecimento comum até detalhes que somente uma pessoa local saberia. Incessantemente, a precisão de Lucas é demonstrada: desde as navegações da frota alexandrina ao terreno costeiro das ilhas mediterrâneas até os peculiares títulos oficiais locais, Lucas está correto. De acordo com o professor Sherwin-White, “para Atos, a confirmação de historicidade é esmagadora. Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica, mesmo em questões de detalhe, agora parece absurda”6. O julgamento de Sir William Ramsay, o mundialmente famoso arqueólogo, ainda permanece: “Lucas é historiador de primeira categoria… Esse autor deveria ser colocado ao lado dos maiores dentre os historiadores”7. Dado o cuidado de Lucas e a demonstrada confiabilidade, bem como o contato dele com testemunhas oculares dentro da primeira geração após os eventos, esse escritor é fidedigno.

Com base nas cinco razões que listei, temos justificativas para aceitar a confiabilidade histórica do que os Evangelhos afirmam sobre Jesus, a menos que sejam provados como errados. No mínimo, não podemos pressupor que são errados até que sejam provados corretos. A pessoa que nega a confiabilidade dos Evangelhos deve levar o ônus da prova.

Aspectos específicos da vida de Jesus

Ora, pela própria natureza do argumento, será impossível dizer muito mais além do que isso para provar que certas histórias nos Evangelhos são historicamente verdadeiras. Como se pode provar, por exemplo, a história da visita de Jesus a Maria e Marta? Tem-se aqui uma história contada por um autor confiável, em posição de saber e sem razões para duvidar da historicidade da narrativa. Não há muito mais a dizer.

Entretanto, para muitos dentre os eventos-chave nos Evangelhos, muito mais pode ser dito. O que eu gostaria de fazer no momento é empregar alguns importantes aspectos de Jesus nos Evangelhos e falar algo a respeito da credibilidade histórica deles.

1. O autoconceito radical de Jesus como Filho de Deus. Críticos radicais negam que o Jesus histórico pensou acerca de Si mesmo como o divino Filho de Deus. Dizem que, após a morte de Jesus, a igreja primitiva reivindicou que ele dissera tais coisas, conquanto não o tivesse.

O grande problema com essa hipótese é que é inexplicável como judeus monoteístas poderiam ter atribuído divindade a um homem que conheceram, se ele jamais tivesse, por si mesmo, reivindicado qualquer dessas coisas. O monoteísmo é a essência da religião judaica, e seria blasfemo dizer que um ser humano era Deus. Porém, é precisamente o que os cristãos mais primitivos proclamavam e acreditavam sobre Jesus. Tal afirmação deve estar enraizada no próprio ensinamento de Jesus.

E, na realidade, a maioria dos estudiosos acredita que, entre as palavras historicamente autênticas de Jesus — essas são as palavras que nos evangelhos que o Jesus Seminar imprimiria em vermelho —, há afirmações que revelam a autocompreensão divina que Ele tinha. Alguém pode fazer uma palestra inteira somente sobre esse ponto; mas permita-me focalizar no autoconceito de Jesus como sendo o divino e singular Filho de Deus.

A radical autocompreensão de Jesus é revelada, por exemplo, em Sua parábola dos ímpios lavradores da vinha. Mesmo estudiosos céticos admitem a autenticidade dessa parábola, já que também é encontrada no Evangelho de Tomé, uma das fontes favoritas deles. Nessa parábola, o proprietário da vinha envia servos aos lavradores da vinha para colherem o fruto dela. A vinha simboliza Israel, o proprietário é Deus, os lavradores são os líderes religiosos judeus, e os servos são profetas enviados por Deus. Os lavradores espancaram e rejeitaram os servos do proprietário. Finalmente, o proprietário diz: “Mandarei meu filho amado, unigênito. A ele ouvirão”. Em vez disso, os lavradores mataram o filho, porque ele era o herdeiro da vinha. Ora, o que essa parábola nos diz sobre a autocompreensão de Jesus? Ele pensava de Si mesmo como o especial filho de Deus, distinto de todos os profetas, o mensageiro último de Deus, e mesmo o herdeiro de Israel. Esse não era um mero andarilho judeu!

A autoconcepção de Jesus como filho de Deus tem expressão explícita em Mateus 11.27: “Todas as coisas me foram entregues pelo Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Novamente, há bons motivos para se considerar este como um autêntico dito do Jesus histórico. É retirado de uma antiga fonte que era compartilhada por Mateus e Lucas, chamada por estudiosos de documento Q. Ademais, é improvável que a Igreja inventou esse dito, porque diz que o Filho é incognoscível — “ninguém conhece o Filho, senão o Pai” —, mas para a Igreja pós-Páscoa nós podemos conhecer o Filho. Então, esse dito não é o produto de teologia tardia da Igreja. O que ele nos diz sobre a autoconcepção de Jesus? Ele pensava de Si mesmo como o exclusivo e absoluto Filho de Deus e a única revelação de Deus à humanidade! Não se engane: se Jesus não era quem disse ser, era ela mais louco do que David Koresh e Jim Jones juntos8!

Por último, quero considerar mais um dito de Jesus, quando falou sobre a data de Sua segunda vinda em Marcos 13.32. “Quanto, porém, ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu nem o Filho, senão o Pai”. Esse é um autêntico dito do Jesus histórico, pois a igreja posterior, que considerava Jesus como divino, jamais teria inventado um dito atribuindo conhecimento limitado ou ignorância a Jesus. Mas aqui Jesus diz que não sabia do tempo de Seu retorno. Então, o que aprendemos dessa afirmação? Ela não somente revela a consciência de Jesus de ser o único Filho de Deus, mas apresenta-nos com uma escala ascendente, a partir dos homens até os anjos, passando pelo Filho até o Pai, uma escala em que Jesus transcende qualquer ser humano ou angelical. Isso é realmente incrível! Porém, é nisso que o Jesus histórico acreditava. E essa é apenas uma faceta da autocompreensão de Jesus. C. S. Lewis estava certo, quando disse:

Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático — no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passou de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.9

2. Os milagres de Jesus. Mesmo os críticos mais céticos não podem negam que o Jesus histórico realizou ministério de operação de milagres e exorcismo. Rudolf Bultmann, um dos estudiosos mais céticos que este século pôde ver, escreveu em 1926:

A maioria das histórias de milagres contidos nos Evangelhos é lendária, ou ao menos vestida com lendas. Mas não pode haver dúvida de que Jesus fez tais obras, que eram, no entendimento dele e de seus contemporâneos, milagres, isto é, ações resultantes de causalidade divina, sobrenatural. Sem dúvida, ele curou os doentes e expulsou demônios.10

Na época de Bultmann, pensava-se que as histórias de milagres foram influenciadas por histórias de heróis mitológicos e, portanto, ao menos em parte eram lendárias. Mas, atualmente, reconhece-se que a hipótese de influência mitológica estava historicamente incorreta. Craig Evans, conhecido estudioso sobre Jesus, diz que a “noção antiga” de que as histórias de milagres foram produto de ideias de homens caracterizadas pelo mitológico “tem sido amplamente abandonada”11. Ele diz: “Não mais se contesta seriamente que os milagres tiveram um papel no ministério de Jesus”. A única razão que resta para negar que Jesus realizou milagres literais é a pressuposição do antissobrenaturalismo, que é simplesmente injustificada.

3. O julgamento e crucificação de Jesus. De acordo com os Evangelhos, Jesus foi condenado pela suprema corte judaica, sob acusação de blasfêmia, e então entregue aos romanos para execução, por Seu ato de traição ao colocar-Se como Rei dos Judeus. Esses fatos não são confirmados somente por fontes bíblicas independentes como Paulo e os Atos dos Apóstolos, mas também por fontes extrabíblicas. De Josefo e Tácito, aprendemos que Jesus foi crucificado pelas autoridades romanas sob sentença de Pôncio Pilatos. De Josefo e Mara bar Serapião, aprendemos que os líderes judeus fizeram acusação formal contra Jesus e participaram dos eventos que O levaram à crucificação. E do Talmude Babilônico, Sinédrio 43a, aprendemos que o envolvimento judeu no julgamento era explicado como a atitude adequada contra um herege. Conforme Johnson, “o apoio para o modo de sua morte, seus agentes, e talvez coagentes, é esmagador: Jesus encarou julgamento antes de sua morte, foi condenado e executado por crucificação”12. A crucificação de Jesus é reconhecida até mesmo pelo Jesus Seminar como “fato indiscutível”13.

Mas isso levanta uma questão muito enigmática: por que Jesus foi crucificado? Como vimos, a evidência indica que Sua crucificação foi instigada por causa de Suas afirmações blasfemas, que para os romanos soariam como traidoras. É por isso que Ele foi crucificado, nas palavras da plaqueta que foi pregada à cruz, acima de Sua cabeça, como “O Rei dos Judeus”. Mas se Jesus fosse apenas um andarilho, um filósofo cínico, apenas um liberal contestador social, como afirma o Jesus Seminar, então Sua crucificação se torna inexplicável. Como o doutor Leander Keck, da Universidade Yale, disse: “A ideia de que esse cínico judeu (e seus doze hippies), com seu comportamento e aforismos, era uma séria ameaça à sociedade soa mais como presunção de acadêmicos alienados do que sólido julgamento histórico”14. O estudioso de Novo Testamento John Meier é igualmente direto. Ele diz que um insosso Jesus que saía falando parábolas e dizendo às pessoas para olharem os lírios do campo — “tal Jesus”, ele diz, “não ameaçaria ninguém, assim como professores universitários que o criam não ameaçam ninguém”15. O Jesus Seminar criou um Jesus que é incompatível com o fato indiscutível de Sua crucificação.

4. A ressurreição de Jesus. Parece-me que há quatro fatos estabelecidos que constituem evidência indutiva para a ressurreição de Jesus:

Fato 1: Após a crucificação, Jesus foi sepultado por José de Arimatéia no túmulo. Esse fato altamente considerável, pois significa que o local do túmulo de Jesus era conhecido por judeus e cristãos, indistintamente. Nesse caso, torna-se inexplicável como a crença em Sua ressurreição poderia surgir e florescer diante de um túmulo contendo Seu cadáver. De acordo com o falecido John A. T. Robinson, da Universidade de Cambridge, o honrável sepultamento de Jesus é um dos “mais primitivos e mais bem atestados fatos sobre Jesus”16.

Fato 2: Na manhã de domingo seguinte à crucificação, o túmulo de Jesus foi encontrado vazio por um grupo de seguidoras. De acordo com Jakob Kremer, especialista austríaco na ressurreição, “de longe, a maioria dos exegetas sustentam firmemente a confiabilidade das afirmações bíblicas concernentes ao túmulo vazio”17. Como indica D. H. van Daalen, “é extremamente difícil objetar ao túmulo vazio com bases históricas; aqueles que o negam, fazem-no com base em suposições teológicas ou filosóficas”18.

Fato 3: Em múltiplas ocasiões e em variadas circunstâncias, diferentes indivíduos e grupos de pessoas tiveram experiências de aparições de Jesus vivo dentre os mortos. Esse é um fato quase universalmente reconhecido entre estudiosos de Novo Testamento, atualmente. Mesmo Gerd Lüdemann, talvez o mais proeminente crítico atual da ressurreição, admite: “Pode-se tomar como historicamente certo que Pedro e os discípulos tiveram experiências após a morte de Jesus nas quais Jesus apareceu a eles como o Cristo ressurreto”19.

Por último, o fato 4: os discípulos acreditavam que Jesus fora ressuscitado dentre os mortos, a despeito de terem todos os motivos para não crer. Apesar de terem toda a predisposição para o contrário, é fato histórico inegável que os discípulos originais criam em, proclamavam e estavam dispostos a morrerem por causa da ressurreição de Jesus. C. F. D. Moule, da Universidade de Cambridge, conclui que temos, nesse caso, uma crença a qual nada, em termos de influências históricas prévias, pode explicar — exceto a própria ressurreição20.

Portanto, qualquer historiador responsável que procura dar explicações ao assunto deve lidar com esses quatro fatos independentemente estabelecidos: o honrável sepultamento de Jesus, a descoberta de Seu túmulo vazio, Suas aparições como vivo, após a morte, e a própria origem da crença dos discípulos em Sua ressurreição e, portanto, do próprio Cristianismo. Quero enfatizar que esses quatro fatos representam não as conclusões de estudiosos conservadores — nem citei estudiosos conservadores —, mas representam, pelo contrário, a visão majoritária da erudição neotestamentária, atualmente. A questão é: como melhor se explicam esses fatos?

Ora, isso coloca o crítico cético em uma situação um tanto quanto desesperadora. Por exemplo, algum tempo atrás, tive um debate com certo professor da Universidade da Califórnia, Irvine, acerca da historicidade da ressurreição de Jesus. Ele havia escrito sua dissertação doutoral sobre o assunto e estava meticulosamente familiarizado com as evidências. Ele não poderia negar os fatos do honrável sepultamento de Jesus, Seu túmulo vazio, Suas aparições pós-morte, e a origem da crença dos discípulos em Sua ressurreição. Portanto, o único recurso dele era oferecer explicação alternativa para esses fatos. Assim, ele argumentou que Jesus tinha um desconhecido irmão gêmeo idêntico que foi separado dele no nascimento, voltou para Jerusalém exatamente no período da crucificação, roubou o corpo de Jesus da sepultura, e apresentou-se aos discípulos, que por engano inferiram que Jesus ressuscitara dentre os mortos! Ora, não mostrarei como refutei a teoria dele, mas acho que tal teoria é instrutiva, por mostrar até que distâncias desesperadas o ceticismo deve ir a fim de negar a historicidade da ressurreição de Jesus. De fato, as evidências são tão poderosas que um dos principais teólogos judeus da atualidade, Pinchas Lapide, declarou-se convencido, com base nas evidências, de que o Deus de Israel ressuscitou Jesus dentre os mortos!21

Conclusão

Em resumo, os Evangelhos não são documentos fidedignos somente de maneira geral, mas quando observamos alguns dos mais importantes aspectos de Jesus nos Evangelhos, como Suas radicais afirmações pessoais, Seus milagres, Seu julgamento e crucificação e Sua ressurreição, a veracidade histórica disso tudo irradia. Deus agiu na história, e podemos saber disso.

Notas finais

1 Luke Timothy Johnson, The Real Jesus (São Francisco: Harper San Francisco, 1996), p. 123.

2 A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford: Clarendon Press, 1963), pp. 188-91.

3 Rudolf Pesch, Das Markusevangelium, 2 vols., Herders Theologischer Kommentar zum Neuen Testament 2 (Freiburg: Herder, 1976-77), 2: 519-20.

4 Veja a discusão em Colin J. Hemer, The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History, ed. Conrad H. Gempf, Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 49 (Tübingen: J. C. B. Mohr, 1989), cap. 8.

5 Ibid., capítulos 4 e 5.

6 Sherwin-White, Roman Society, p. 189.

7 William M. Ramsay, The Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New Testament (Londres: Hodder & Stoughton, 1915), p. 222.

8 David Koresh e Jim Jones foram líderes religiosos que levaram suas seitas ao suicídio coletivo. (N. do T.)

9 C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, trad. Álvaro Oppermann e Marcelo Brandão Cipolla (São Paulo: Martins Fontes, 2005), pp. 69, 70.

10 Rudolf Bultmann, Jesus (Berlin: Deutsche Bibliothek, 1926), p. 159.

11 Craig Evans, “Life-of-Jesus Research and the Eclipse of Mythology”, Theological Studies 54 (1993): 18, 34.

12 Johnson, Real Jesus, p. 125.

13 Robert Funk, fita de vídeo do Jesus Seminar.

14 Leander Keck, “The Second Coming of the Liberal Jesus?”, Christian Century (Agosto, 1994), p. 786.

15 John P. Meier, A Marginal Jew, vol. 1: The Roots of the Problem and the Person, Anchor Bible Reference Library (New York: Doubleday, 1991), p. 177.

16 John A. T. Robinson, The Human Face of God (Filadélfia: Westminster, 1973), p. 131.

17 Jakob Kremer, Die Osterevangelien–Geschichten um Geschichte (Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 1977), pp. 49-50.

18 D. H. Van Daalen, The Real Resurrection (Londres: Collins, 1972), p. 41.

19 Gerd Lüdemann, What Really Happened to Jesus?, trad. John Bowden (Louisville, Kent.: Westminster John Knox Press, 1995), p. 80.

20 C. F. D. Moule and Don Cupitt, “The Resurrection: a Disagreement”, Theology 75 (1972): 507-19.

21 Pinchas Lapide, The Resurrection of Jesus, trad. Wilhelm C. Linss (Londres: SPCK, 1983).

sábado, 10 de outubro de 2009

Movimento da "FÉ"

Autor: Dr. Paulo Romeiro

É pastor e um dos mais renomados apologistas evangélicos. Bacharel em Jornalismo; cursou o Gordon-Conwell Theological Seminary em Boston; É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Mackenzie.

Quais os ensinos fundamentais do Movimento da Fé?
O Movimento da "Fé" acredita que a mente e a língua humanas contêm uma habilidade ou poder sobrenatural. Quando alguém fala, expressando a sua fé em leis supostamente divinas, seus pensamentos e expressão verbal positivos produzem uma "força" supostamente divina que irá curar, proporcionar riqueza, trazer sucesso e, de outras maneiras, influenciar o ambiente. Kenneth Copeland ensina que "a força poderosa do mundo espiritual, o qual cria as circunstâncias que nos rodeiam, é controlada pelas palavras pronunciadas pela boca humana. Essa força vem de nosso interior".[1] Portanto, "não há nada nesta terra tão grande ou poderoso... que não possa ser controlado pela língua... É até possível controlar Satanás, aprendendo a controlar a própria língua".[2]

Segundo os pregadores da "Fé", Deus responde automaticamente e realiza o que ordenamos quando confessamos nossas necessidades e desejos pela fé, de maneira positiva.[3]

Por isso os cristãos devem supostamente aprender a operar seu homem interior ou "homem espiritual" no poder do mundo espiritual, mediante leis sobrenaturais, leis que irão funcionar para qualquer indivíduo, quer crente ou incrédulo.[4]

Segundo observa Charles Capps: "As palavras são a coisa mais poderosa do Universo"; "Isso não é teoria, é fato. É uma lei espiritual"; e: "Esses princípios de fé são baseados em leis espirituais. Eles funcionam para quem quer que aplique essas leis. Você os faz funcionar pelas palavras da sua boca".[5] A não ser que os cristãos obedeçam a essas leis e as apliquem com sucesso, o próprio Deus fica prejudicado em Sua possibilidade de agir na vida deles. Por quê? Porque tanto Deus como os cristãos são limitados por essas leis. Fred K. C. Price e outros ensinam que da mesma forma que o poder de Deus tem origem na fé que Ele exerce nas palavras que profere, o mesmo se aplica aos cristãos.[6] Por exemplo, "Deus criou o universo pelos métodos que você acabou de colocar em prática pelas palavras de sua boca. Deus liberou a Sua fé em palavras".[7]

Isso significa que tanto o homem quanto Deus são limitados em sua capacidade de agir sobrenaturalmente, a não ser que as fórmulas de fé adequadas sejam ditas, permitindo que o seu poder opere.[8] Só quando homens e mulheres imitam a Deus e Suas leis, eles podem realizar milagres.

Por exemplo, "Deus criou o universo dizendo que este viesse a exisitr. Ele deu a você essa mesma habilidade na forma de palavras."[9] Deus é, portanto, um Deus de "palavra de fé", que criou o homem à Sua imagem e lhe deu o potencial de usar o poder que Ele manifestou na criação.[10] "O homem é então um espírito, perfeitamente capaz de operar no mesmo nível de fé que Deus."[11] Como resultado, "você tem o poder de Deus à sua disposição".[12] Tudo isso explica porque a maioria dos pregadores da Fé pensa que o homem é um deus literal – nas palavras de Copeland, um ser "da classe de Deus".[13] Ao imitar o uso das leis cósmicas por Deus, o homem pode realizar atos sobrenaturais como os dEle.

Mas os pregadores da Fé também afirmam haver perigo em tudo isso. Essas leis cósmicas operam indiscriminadamente. Se os cristãos não tiverem cuidado, Satanás pode enganá-los porque tem igualmente condições de operar, usando as línguas de homens da classe de Deus.[14] Por exemplo, a "confissão negativa" – qualquer coisa dita que negue os princípios do Movimento da Fé – permite que Satanás entre na vida dos cristãos e os engane.

Em qualquer caso, até a missão do próprio Cristo é adequada à filosofia da Fé. Por que Jesus veio? Segundo o Movimento da Fé, uma razão da vinda de Jesus foi transformar-nos em "Cristãos da Fé" fortes, que pudessem fazer as coisas que Ele fez – e coisas maiores ainda. Jesus veio a este mundo por causa do poder da palavra proferida por Deus e por causa da fé que Deus tem na Sua fé.[15] De fato, Jesus foi a síntese do verdadeiro homem de "Fé". Ele sabia como usar perfeitamente as leis espirituais do Universo[16] e, portanto, tinha imensos poderes e fazia milagres incríveis. Assim sendo, Jesus foi um exemplo do Homem Bem-Sucedido. Robert Tilton ensina: "Jesus veio para livrar a humanidade do fracasso e nos levar ao sucesso".[17] E: "Deus criou o homem para ter sucesso, mas ele falhou... Deus enviou então Jesus para resgatar-nos do fracasso e restaurar-nos à posição de sucesso... (Por causa do nosso fracasso) Deus preparou um novo plano. Esse plano foi enviar Jesus. Mediante Jesus recebemos força e poder para sermos bem-sucedidos..."[18]



No livro Commanding Power (Poder Que Comanda), Kenneth Hagin Jr. ensina que a expiação de Cristo trouxe aos cristãos o "poder de comandar" ou a habilidade de ordenar que as coisas que nos rodeiam se conformem aos nossos desejos. "Nosso problema é que oramos e confessamos muito, mas não mandamos. É gostoso mandar!... Jesus já pagou o preço para fazermos isso..."[19]

Além disso, na cruz e no inferno, Jesus não só derrotou Satanás e sofreu o castigo pelo pecado, como também levou sobre Si a maldição da lei (Gl 3.12), pagando o preço pelas nossas fraquezas, pobreza e doença, a fim de que cristão nenhum tenha de experimentá-las.[20]

Isso significa que, para o Movimento da Fé, Jesus não é simplesmente nosso Salvador do pecado. Ele é o Redentor da nossa Fé, o exemplo perfeito dos "princípios da Fé" em ação. Como "pequenos cristos" e "pequenos deuses", devemos ser imitadores dEle.

Qual a relação entre os ensinos do Movimento da Fé e a teologia das seitas?

A maioria dos pregadores da Fé afirmou publicamente que não ensina a "Ciência Cristã", "Poder da Mente" ou o "Novo Pensamento".[21] Isso parece indicar que até os próprios pregadores da Fé reconhecem suas similaridades com sistemas heréticos ou, pelo menos, têm conhecimento das acusações feitas por outros.

Não obstante, apesar dos desmentidos, em muitos pontos seus ensinamentos são semelhantes ou quase idênticos aos encontrados nas religiões do "Poder da Mente".[22] Os conceitos de confissão positiva, prosperidade e sucesso, saúde divina, manipulação da criação, negativa sensorial, e rejeição implícita da medicina científica podem ser todos encontrados nas teologias do "Poder da Mente" dos séculos dezenove e vinte, tais como a "Unity School of Christianity" ("Escola Unitária do Cristianismo"), "NTalvez seja por isso que o historiador carismático D. R. McConnel documenta tão prontamente a origem pagã do Movimento da Fé através de E. W. Kenyon:

[O Pai moderno do Movimento da Fé, Kenneth] Hagin plagiou E. W. Kenyon, em palavras e conteúdo, na maior parte da sua teologia. Todos os pregadores da Fé, inclusive Kenneth Hagin e Kenneth Copeland, quer admitam ou não, são filhos e netos espirituais de E. W. Kenyon. Foi Kenyon, e não Hagin, que formulou as principais doutrinas do moderno Movimento da Fé... Os alicerces da teologia de Kenyon foram formados nas seitas metafísicas, especialmente no "Novo Pensamento" (New Thought) e na "Ciência Cristã"... Kenyon tentou forjar uma síntese dos pensamentos metafísico e evangélico... O resultado na teologia da Fé é uma estranha mistura de fundamentalismo bíblico e metafísica do Novo Pensamento.[23]

Por exemplo, considere como as influências das seitas no Movimento da Fé se entrelaçaram na doutrina da cura:

A teologia da cura do Movimento da Fé não está baseada na capacidade de detectar sintomas, mas em negá-los. Os sintomas físicos não são reais. Mas eles irão tornar-se reais se o crente reconhecer a sua existência e deixar de aplicar os princípios da cura espiritual. Só quem não sabe crer em Deus para a cura espiritual irá recorrer à medicina científica. A visão da "Fé" quanto à medicina científica é pagã... e é a mesma visão pregada pelo fundador da metafísica do século dezenove, P. P. Quimby.[24]


Conclusão

Em seu confronto com a Igreja de Roma, Martim Lutero confessou que, a não ser que fosse "convencido pelos testemunhos das Sagradas Escrituras ou razão evidente", ele estava "obrigado pela Escritura" a manter os princípios da Reforma. Não era "seguro nem correto" agir contra a sua consciência nesse aspecto. Para Lutero, a Escritura estava acima de toda experiência e acima de todas as afirmações extra-bíblicas de revelação divina – e, por causa dessa sua posição, a igreja tem uma dívida incomensurável para com ele. Do mesmo modo, ao examinar o Movimento da Fé, só as Escrituras devem ser o nosso padrão – e não a experiência ou novas alegações de revelação divina. (John Ankerberg e John Weldon - http://www.chamada.com.br/)


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...os pregadores da Fé têm sido hábeis em disfarçar-se de carismáticos... [mas] tanto "as raízes como os frutos" da teologia da Fé são decididamente metafísicos...
– Hank Hanegraaff - Presidente do Instituto Cristão de Pesquisas nos EUA e autor do livro Cristianismo em Crise (citação do Prefácio de "A Different Gospel", edição atualizada, de D. R. McConnell).

Graças a Deus por mais este trabalho que vem fortalecer a refutação à Teologia da Saúde e da Prosperidade em solo brasileiro. Este livro revela muitas declarações absurdas de vários pregadores da Confissão Positiva nos EUA, mostrando o caráter herético dessa corrente doutrinária. É, sem dúvida, um forte alerta aos crentes no Brasil, para que não venham a seguir o exemplo de tais líderes na outra América.
– Pr. Paulo Romeiro - Presidente do AGIR e autor dos livros SuperCrentes e Evangélicos em Crise.


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Notas

Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity, 1989, 83.

Copeland, The Power of the Tongue, 1991, 29, 20, 30.

Copeland, The Power, 3, 8, 23; The Image of God in You, 1990, 4-12; You’re Right Standing With God, 1991, 13; The Laws of Prosperity, 83.

E. g., Copeland, The Power, 6, 24; The Image of God, 2; Prosperity: The Choice is Yours, 1990, 4-5, 30.

Charles Capps, God’s Creative Power Will Work for You, 1976, 1-2.

Copeland, The Power, 4, 7, 23-24; Prosperity: The Choice, 18; The Laws of Prosperity, 84; cf. Fred K.C. Price, How Faith Works, 101.

Capps, God’s Creative Power, 25; cf. Fred K.C. Price, How Faith Works, 99; cf. Price, "The Power of Positive Confession", fita cassete Nº 46 (1988), Krenshaw Christian Center, Los Angeles, CA.

Copeland, The Power, 8, 15; The Outpouring of the Spirit: The Result of Prayer, 1991, 19; Our Covenant with God, 1991, 32.

Capps, God’s Creative Power, última capa.

Ibid., 3.

Ibid., 1.

Copeland, The Power, 15.

Copeland, The Power, 8.

Ibid., 8, 21.

Ibid., 10; Copeland, Our Covenant with God, 21, 27.

Copeland, The Power, 16.

Robert Tilton, God’s Laws of Success, 1985, 27.

Ibid., 113.

Kenneth Hagin Jr., Commanding Power, 1984, 12-13.

Copeland, The Power, 10; A Covenant of Blood, 1987; Our Covenant, 28, 33, 37.

E. g., Tilton, Metamorphosis of the Mind, 1987, 18; Savelle, God’s Provision, 19; Osteen, The Confessions of a Baptist Preacher, 1983, 11.

E. g., Savelle, God’s Provision for Healing, 19, 22; Capps, God’s Creative Power, 14-17; Angels, 1984, 84, 127, How to Have Faith in Your Faith, 1986, 129. Changing the Seen, 8-12, passim; Osteen, The Confession, 27-29; K. Hagin, Jr., Commanding Power, Words, 1991, The Key to the Supernatural, 1986, passim; Robert Tilton, Acknowledging Good Things, 7, 55, 65, 89-90, Charting Your Course, 30, 77-78, 81-82, 85, 92-100, God’s Laws, 5, 10, 23, passim. Em comparação, Riches Within Your Reach: The Law of Higher Potential (1976) de Robert Collier, escritor do Novo Pensamento, em muitos pontos não se distingue dos ensinamentos da "Fé".

McConnell, A Different Gospel, 184-186.

Ibid., 154-155.



Tabernáculo da Fé


Autor: Natanael Rinaldi

O líder dessa seita, William Marrion Branham, nasceu em Kentuchy (EUA), em 6 de abril de 1909, numa cabana muito humilde, sendo o primogênito de um casal muito pobre. Dez dias depois do seu nascimento, uma coluna de luz penetrou pela janela e posou sobre sua cabeça. Seus pais ficaram assustados, sem saber como interpretar tal fenômeno. Os seguidores de Branham acreditam que foi um sinal de que Deus tinha sua mão sobre ele desde o seu nascimento. A auréola supostamente apareceu novamente em Houston, Texas, em 1950, quando Branham pregava numa campanha. Uma foto do fenômeno foi enviada para George Lacy, investigador de documentos duvidosos, de uma agência do Governo Federal (F.B.I), o qual, depois a foto, fez a seguinte declaração para Branham, seus seguidores e a imprensa: “Reverendo Branham, você morrerá como todos os outros mortais, mas, enquanto existir uma civilização cristã, sua foto permanecerá viva”. A famosa foto encontra-se em muitas publicações, dentre elas o “Dicionário de movimentos carismáticos e pentecostais”, publicado em 1988, pela Zondervan (p.69).1

Branham afirma que Deus falou com ele, pela primeira vez, aos sete anos de idade. Ele estava carregando água para a destilaria ilegal de seu pai e, ao parar para descansar debaixo de uma árvore, ouviu, vinda do vento que assobiava entre as folhagens do arbusto, uma voz que dizia: “Nunca beba, fume ou profane seu corpo com qualquer meio, pois eu tenho uma obra para você realizar, quando estiver mais velho”.

A conversão de Branham ao cristianismo aconteceu através da pregação de um pastor batista. Logo depois, sentiu chamada para pregar e começou a fazer planos para dirigir seu primeiro culto na igreja. Em 1933, sob uma tenda em Jeffersonville, Indiana, Branham pregou para aproximadamente três mil pessoas. A morte de sua esposa Hope Brumback, e de sua filha ainda bebê, ambas em 1937, foi uma fatalidade interpretada por Branham como juízo de Deus, por ele não ter dado atenção ao chamado para ministrar aos pentecostais unicistas.

Em 1946, Branham alegou ter conversado com um anjo numa caverna secreta, onde recebeu o poder de discernir a enfermidade das pessoas. Daí para frente, os cultos de cura e reavivamento dirigidos pelo pregador místico de Indiana passaram a ser freqüentados por milhares de pessoas, As reuniões ocorriam em auditórios e estádios, por todo o mundo. De outubro a dezembro de 1951, Branham viajou pela África do Sul e dirigiu o que foi chamado de “a maior de todas as reuniões religiosas”.

Branham morreu em 1965, atropelado por um motorista bêbado. Alguns de seus seguidores esperavam sua ressurreição, enquanto outros edificaram um santuário (uma pirâmide) em sua memória, no seu túmulo em Jeffersonville.2



O profeta mensageiro da última Era

O endeusamento de Branham por parte de seus seguidores não tem limite. Tanto é assim que o situam como cumprimento de Apocalipse 10.7, que diz: “Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas seus servos”. E explicam o texto da seguinte forma: “Esta é uma profecia cumprida, pois os mistérios de Deus têm sido consumados através do ministério do irmão William Marrion Branham. Este profeta foi enviado por Deus para esta era e tem pregado a mensagem que Deus lhe ordenou: a palavra pura de Deus tal qual saiu da boca dos profetas e apóstolos.... O irmão Branham desafiou a muitos líderes religiosos em diferentes ocasiões para mostrar ao povo o supérfluo de suas religiões”.3

Branham engrandeceu seu nome de tal maneira que chegou a ser considerado o “profeta mensageiro da última era da história do mundo”. E dividiu a história em sete dispensações ou idades. Cada uma dessas dispensações tem um profeta mensageiro; portanto há sete profetas mensageiros. Tal idéia foi baseada em Apocalipse 2 e 3 A lista das eras estabelecidas por Branham e suas datas são as seguintes:

Éfeso 53- 170 A.D. O apóstolo Paulo
Esmirna 170- 312 A.D. Irineu
Pérgamo 312- 606 A.D. Martinho
Tiatira 606-1520 A.D. Columba
Sardes 1520-1750 A.D. Martinho Lutero
Filadélfia 1750-1906 A.D. João Wesley
Laodicéia 1907-1965 A.D. William Marriom Branham


Esta última dispensação teve o seu tempo de duração interrompido em face da morte de Branham, em 1965. Pela exposição acima, os adeptos desse movimento ensinam que a igreja cristã de hoje está na mesma situação espiritual da igreja de Laodicéia. Dizem: “O que vemos é a Escritura se repetindo. A filha de Herodias, representada pelo sistema denominacional dançando frente ao rei, procurando agradá-lo e tomando conselho com sua mãe, contra o profeta” (que é Branham).4

Um dos seus adeptos, T.L. Osborn5, no folheto intitulado “Um homem chamado William Branham”, escreveu o seguinte: “Esta geração está incumbida: uma geração na qual Deus tem caminhado em carne humana na forma de um PROFETA. Deus tem visitado seu povo. Porque UM GRANDE PROFETA TEM-SE LEVANTADO ENTRE NÓS”.

Osborn trata a pessoa de Branham como se fosse o próprio Deus. Em outro lugar, no mesmo folheto, diz: “Deus tem enviado o irmão Branham no século XX e tem feito a mesma coisa. Deus em carne, novamente passando por nossos caminhos, e muitos não o conheceram. Eles tão pouco haviam conhecido se tivessem vivido no tempo em que Deus cruzou seus caminhos no corpo chamado Jesus, o Cristo”.

Profeta Branham, comparado com o profeta bíblico

Em diversos grupos religiosos vemos seus líderes tentando roubar a glória que pertence única e exclusivamente a Deus. Para tanto, se intitulam como messias, senhores, vigário de Cristo, profetas etc. No caso de Branham, como vimos acima, não é diferente. Haja vista as declarações de Osborn e do próprio Branham.

William M. Branham é comparado a Deus ou Jesus por T.L. Osborn. Entretanto, Isaías 42.8 declara: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura”. O apóstolo Paulo preveniu-nos contra outro evangelho trazido mesmo que fosse por um anjo do céu (Gl 1.6-9; 2Co 11.4). Se Paulo vivesse hoje, qual seria sua reação face às visões de William Branham e suas próprias reivindicações de ser o anjo de Apocalipse 10.7? “E porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo” (2Co 11.13).Distorcendo as verdades bíblicas, os seguidores de Branham citam passagens em que João Batista é colocado como precursor de Cristo como se as mesmas estivessem se referindo à pessoa de Branham. Um exemplo de sua distorção é quando citam a passagem de Mateus 17.11-12, que diz: “Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram” (grifo do autor). Dizem os seguidores de Branham: “Vemos nesta porção das Escrituras que o Senhor Jesus Cristo fala em dois tempos gramaticais em relação com Elias: Um já veio – passado – que foi João Batista; e o outro tinha de vir – futuro – para restaurar todas as coisas”.6

Concordamos que os tempos gramaticais, tanto no presente quanto no passado, estão corretos, mas discordamos que são empregados a duas pessoas distintas. A passagem de Mateus não nos aponta dois profetas, mas apenas um, João Batista. Quando Jesus disse “Elias virá primeiro”, ele estava respondendo à pergunta de seus discípulos, que queriam saber se era “mister que Elias viesse primeiro”. E ao falar que “Elias já veio”, Cristo estava novamente se dirigindo a João Batista. Chegamos, então, à conclusão de que, nessa passagem, os dois personagens em foco não de duas pessoas, mas, sim, de uma. Ao que nos parece, somente Branham e seus seguidores encontram dificuldades em entender essa questão. Os discípulos de Jesus, na ocasião, entenderam perfeitamente a explicação de Jesus: “Então entenderam os discípulos que lhe falara de João Batista” (Mt 17.13).

Somos advertidos de que há muitos homens se intitulando profetas de Deus e dizendo que falam em seu nome. Será que Deus nos dá algum sinal para que possamos distinguir um falso profeta do verdadeiro? A resposta a essa pergunta está em Deuteronômio 18.21-22: “E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”. Como vemos, um dos meios mais eficazes para que possamos identificar um verdadeiro profeta é verificar se as profecias por ele vaticinadas se cumprem. Do contrário, não devemos temê-lo, nem seguir os seus ensinos (Dt 18.20-22). Em conexão com os ensinos de Moisés, Jesus também nos advertiu contra os falsos profetas (Mt 7.15-20). Os frutos da árvore são as profecias entregues pelos profetas. Como vivemos dias que precedem a volta de Cristo, o surgimento de falsos profetas cresce diariamente, como dizem as Escrituras (Mt 24.5,11,23-24; 2Pe 2.1-3; 1Jo 4.1-3).

Uma das doutrinas mais importantes da Bíblia é a que se refere à segunda vinda de Jesus. A vinda de Jesus é certa (Jo 14.2; At 1.9-11), mas o dia e a hora são desconhecidos (Mt 24.36). Não obstante, existem pessoas que ousam ir além do que está escrito, fixando uma data para esse acontecimento, caindo, assim, no erro de serem tidas como falsos profetas. É o caso de WILLIAM MARRION BRANHAM, que, em seu livro LAS SIETE EDADES DE LA IGLESIA (As sete eras da Igreja, p. 361), interpreta, de forma extremamente equivocada, as palavras de Jesus em Marcos 13.32:

Y, aunque muchas personas juzgam que esto es um pronóstico irresponsable, em vista de que Jesús dijo que empero de aquel dia y de la hora, nadie sabe (Marcos 13.32), y todavia me mantengo firme em mi crencia despues de treinta años, porque Jesús no dijo que nadie podia conocer al año, mês o semana en que Su venida habria de ser completada. Asi que repito, yo sinceramente creo y mantengo como um estudiante particular de la Palavra, juntamente com la inspiración Divina, que el año de 1977 debe poner fim a los sistemas mundiales e introducir el milenio (grifo do autor).

O que aconteceu em 1977? Não ocorreu o fim dos sistemas mundiais e muito menos o início do milênio. Com essas falsas palavras proféticas, William Marrion Branham identificou-se como falso profeta, insurgindo-se contra as palavras de Jesus: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24.36,42,44). “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mt 25.13). Aos seus discípulos disse: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” (At 1.7). Na lei de Moisés, qualquer cidadão que usasse o nome do Senhor em vão era morto a pedradas (Dt 18.20-22; Êx 20.7).

O Las siete edades de la Iglesia (p. 360), contém uma infinidade de registros de visões ocorridas em 1933 7, culminando com a fixação da data para a vinda de Jesus em 1977. Uma visão importante, segundo Branham, aconteceu enquanto batizava seus convertidos num rio. Ele ouviu a voz de Deus, que dizia: “Como João Batista foi enviado como precursor da minha primeira vinda, assim também você e sua mensagem têm sido enviados para preparar minha segunda vinda”. 8Distorcendo as verdades bíblicas, os seguidores de Branham citam passagens em que João Batista é colocado como precursor de Cristo como se as mesmas estivessem se referindo à pessoa de Branham. Um exemplo de sua distorção é quando citam a passagem de Mateus 17.11-12, que diz: “Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram” (grifo do autor). Dizem os seguidores de Branham: “Vemos nesta porção das Escrituras que o Senhor Jesus Cristo fala em dois tempos gramaticais em relação com Elias: Um já veio – passado – que foi João Batista; e o outro tinha de vir – futuro – para restaurar todas as coisas”.6

Concordamos que os tempos gramaticais, tanto no presente quanto no passado, estão corretos, mas discordamos que são empregados a duas pessoas distintas. A passagem de Mateus não nos aponta dois profetas, mas apenas um, João Batista. Quando Jesus disse “Elias virá primeiro”, ele estava respondendo à pergunta de seus discípulos, que queriam saber se era “mister que Elias viesse primeiro”. E ao falar que “Elias já veio”, Cristo estava novamente se dirigindo a João Batista. Chegamos, então, à conclusão de que, nessa passagem, os dois personagens em foco não de duas pessoas, mas, sim, de uma. Ao que nos parece, somente Branham e seus seguidores encontram dificuldades em entender essa questão. Os discípulos de Jesus, na ocasião, entenderam perfeitamente a explicação de Jesus: “Então entenderam os discípulos que lhe falara de João Batista” (Mt 17.13).

Somos advertidos de que há muitos homens se intitulando profetas de Deus e dizendo que falam em seu nome. Será que Deus nos dá algum sinal para que possamos distinguir um falso profeta do verdadeiro? A resposta a essa pergunta está em Deuteronômio 18.21-22: “E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”. Como vemos, um dos meios mais eficazes para que possamos identificar um verdadeiro profeta é verificar se as profecias por ele vaticinadas se cumprem. Do contrário, não devemos temê-lo, nem seguir os seus ensinos (Dt 18.20-22). Em conexão com os ensinos de Moisés, Jesus também nos advertiu contra os falsos profetas (Mt 7.15-20). Os frutos da árvore são as profecias entregues pelos profetas. Como vivemos dias que precedem a volta de Cristo, o surgimento de falsos profetas cresce diariamente, como dizem as Escrituras (Mt 24.5,11,23-24; 2Pe 2.1-3; 1Jo 4.1-3).

Uma das doutrinas mais importantes da Bíblia é a que se refere à segunda vinda de Jesus. A vinda de Jesus é certa (Jo 14.2; At 1.9-11), mas o dia e a hora são desconhecidos (Mt 24.36). Não obstante, existem pessoas que ousam ir além do que está escrito, fixando uma data para esse acontecimento, caindo, assim, no erro de serem tidas como falsos profetas. É o caso de WILLIAM MARRION BRANHAM, que, em seu livro LAS SIETE EDADES DE LA IGLESIA (As sete eras da Igreja, p. 361), interpreta, de forma extremamente equivocada, as palavras de Jesus em Marcos 13.32:

Y, aunque muchas personas juzgam que esto es um pronóstico irresponsable, em vista de que Jesús dijo que empero de aquel dia y de la hora, nadie sabe (Marcos 13.32), y todavia me mantengo firme em mi crencia despues de treinta años, porque Jesús no dijo que nadie podia conocer al año, mês o semana en que Su venida habria de ser completada. Asi que repito, yo sinceramente creo y mantengo como um estudiante particular de la Palavra, juntamente com la inspiración Divina, que el año de 1977 debe poner fim a los sistemas mundiales e introducir el milenio (grifo do autor).

O que aconteceu em 1977? Não ocorreu o fim dos sistemas mundiais e muito menos o início do milênio. Com essas falsas palavras proféticas, William Marrion Branham identificou-se como falso profeta, insurgindo-se contra as palavras de Jesus: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24.36,42,44). “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mt 25.13). Aos seus discípulos disse: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” (At 1.7). Na lei de Moisés, qualquer cidadão que usasse o nome do Senhor em vão era morto a pedradas (Dt 18.20-22; Êx 20.7).

O Las siete edades de la Iglesia (p. 360), contém uma infinidade de registros de visões ocorridas em 1933 7, culminando com a fixação da data para a vinda de Jesus em 1977. Uma visão importante, segundo Branham, aconteceu enquanto batizava seus convertidos num rio. Ele ouviu a voz de Deus, que dizia: “Como João Batista foi enviado como precursor da minha primeira vinda, assim também você e sua mensagem têm sido enviados para preparar minha segunda vinda”. 8Para os crentes em Cristo, a revelação de Deus, registrada na Bíblia, é suficiente, por isso não precisam de revelações adicionais e contradizentes. O Senhor disse ao profeta Ezequiel: “Filho do homem, profetiza contra os profetas de Israel que profetizam, e dize aos que só profetizam de seu coração: Ouvi a palavra do Senhor; Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram! Os teus profetas, ó Israel, são como raposas nos desertos. Viram vaidade e adivinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da palavra. Porventura não tiveste visão de vaidade, e não falaste adivinhação mentirosa, quando dissestes: O Senhor diz, sendo que tal não falei?” (Ez 13.2-4,6-7). O texto se refere também a alguém que se diz profeta e especifica uma data para a segunda vinda de Cristo e sua profecia não se cumpre.

Seus sucessores e adeptos, além das falsas profecias, rejeitam várias doutrinas bíblicas da Igreja Cristã, como, por exemplo, a doutrina da Trindade, a fórmula bíblica do batismo, conforme Mateus 28.19, e a existência real do inferno. Diante de tais negações das doutrinas bíblicas, fica impossível aceitar que os ensinamentos dessa seita estejam em completa harmonia com as Escrituras. Vejamos o que dizem: “Todos os que têm conhecido a vida e o ministério do irmão William Marrion Branham sabem que Deus o vindicou como o profeta mensageiro desta era; e mesmo sua mensagem o assinala como tal, porque está em completa harmonia com as Escrituras”. 9

William Marrion Branham nada mais é do que um falso profeta, pois alega ser um “novo Elias” que veio preparar a volta de Cristo. E suas falsas profecias também nos ajuda a entender esse fato: Branham é um falso profeta. Vejamos o que disse o Senhor a Jeremias: “Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam” (Jr 14.14).



1 Dicionário de religiões, crenças e oOcultismo, p. 49, de George A Mather & Larry A Nichols, Editora Vida, 2000.

2 Um mês antes de sua morte, Branham disse que na grande campanha evangelística de 25 de Janeiro de 1966 ocorreria um grande milagre. Sua morte ocorreu no dia 25 de dezembro de 1965 e muitos de seus seguidores associaram o “grande milagre”, que ocorreria na época da campanha, como sendo a ressurreição de Branham. Eles o embalsamaram e o mantiveram sob refrigeração. Nada ocorrendo, foram tomados de profunda decepção – The Pentecostals. Walter J. Hollenweger (Peabody, Massachusetts 1988: Hendrickson Publishers) pp. 354-355.

3 fascículo, De volta à palavra original, pp. 10-11, Goiânia-GO.

4 fascículo, De volta à palavra original, p. 27, Goiânia, GO

5 Um dos mais proeminentes pregadores e televangelista norte-americano do Movimento da Confissão Positiva. Ele é conhecido por suas cruzadas de “Curas”, tendo já visitado mais de 78 nações. Desde 1949, seu ministério tem sua base em Tulsa, Oklahoma, EUA. Seus livros estão publicados em mais de 132 línguas.

6 folheto “A necessidade de um profeta”, MairArt Sistema de Duplicação Digital, pp.4-5.

7 “O profeta desta era”, n° 5.

8 Id., p.3.

9 folheto “A necessidade de um profeta”, MairArt Sistema de Duplicação Digital, p. 6.